Câncer de Bexiga: como é o tratamento?

A bexiga é o órgão localizado na pélvis que coleta e armazena a urina, possuindo uma parede muscular que permite que ela se contraia ou expanda. Estima-se que o câncer de bexiga acometeu cerca de 7.200 homens e 2.470 mulheres no ano de 2016 no Brasil, sendo responsável por cerca de 3600 óbitos anuais (dados do INCA).

O tumor limitado ao revestimento interno da bexiga é chamado de câncer de bexiga não musculo invasivo (CBNMI), algumas vezes chamado câncer de bexiga superficial. Mais de 75% dos tumores de bexiga são diagnosticados como CBNMI, com excelentes taxas de sobrevivência para o paciente. O câncer músculo-invasivo é aquele que invade a musculatura da parede da bexiga, e possui uma chance maior de se espalhar para outras partes do corpo, mas geralmente é curável.

 

Quais médicos tratam o câncer de bexiga?

Dependendo das características do paciente e do tumor, diferentes especialistas médicos podem fazer parte da equipe de tratamento, incluindo:

  • Urologista: cirurgiões especialistas no tratamento de doenças do sistema urinário e do sistema reprodutor masculino
  • Rádio-oncologista ou Radioterapeuta: médico que trata do câncer utilizando radioterapia
  • Oncologista clínico: médico que trata do câncer com remédios como quimioterapia e imunoterapia.

 Outros especialistas poderão participar do time de tratamento, incluindo enfermeiras, psicólogos, assistentes sociais, especialistas em nutrição, especialistas em reabilitação, e outros profissionais da saúde.

 

Decisão do Tratamento

A escolha do tratamento para o câncer de bexiga depende de uma série de variáveis, e é importante discutir com os médicos os objetivos e efeitos colaterais possíveis. São coisas importantes para serem consideradas:

  • Idade do paciente e expectativa de vida
  • Outras doenças que o paciente possua
  • O estágio e grau do tumor
  • A chance de cura ou qual benefício o tratamento trará
  • Expectativas do paciente

Idealmente, para a decisão do tratamento é importante consultar o urologista, o rádio-oncologista e o oncologista clínico para conhecer as opções possíveis para o seu caso.

 

Opções de Tratamento

Existem várias opções de tratamento para o câncer de bexiga, e muitas vezes é necessária a associação de modalidades terapêuticas para um melhor resultado.

  • Cirurgia

A cirurgia é uma abordagem muito importante do tratamento do câncer de bexiga não metastático.  A papel do urologista é de suma relevância, indo desde estabelecer a hipótese de câncer através da história e exame físico do paciente, da realização de biópsias, passando pela ressecção do câncer em si.

A abordagem cirúrgica do câncer de bexiga pode incluir:

            -Ressecção Transuretral: neste procedimento o urologista utiliza uma câmera que entra na bexiga através da uretra (cistoscópio) e realiza a ressecção do tumor.  Como parte do procedimento, muitas vezes poderá ser recomendada a injeção de alguma substância dentro da bexiga (BCG ou algum quimioterápico)

Ressecção transuretral de tumor de bexiga

           - Cistectomia: neste procedimento o urologista retira o tumor cirurgicamente, e com ele parte (cistectomia parcial) ou a totalidade (cistectomia total) da bexiga.

  • Radioterapia

Envolve o uso de radiação (geralmente raios-X) de maneira focada, para matar as células tumorais, em uma técnica chamada teleterapia, em um aparelho chamado Acelerador Linear. O tecido sadio circunjacente pode ser afetado também, porém as células normais possuem maior capacidade de se curar dos efeitos da radiação do que o tumor. Novas tecnologias em radioterapia, como o IMRT e o VMAT, também permitem a diminuição da dose de radiação nos órgãos em torno da bexiga.  

Geralmente é utilizada em conjunto com outras modalidades terapêuticas, na tentativa de não se realizar uma cistectomia nos casos de cânceres músculo-invasivos, preservando desta maneira a bexiga do paciente. Pode ainda ser utilizada para tratar tumores que invadem o tecido conectivo subepitelial, e que sejam de alto grau.

Nos protocolos de preservação de órgão, geralmente o paciente é submetido a ressecção transuretral, seguida de radioterapia e quimioterapia, sendo possível manter a bexiga em cerca de 50% a 60% dos pacientes submetidos a esta estratégia, sem prejuízo nas taxas de sobrevivência.

Paciente sendo tratado em Acelerador Linear
  • Tratamentos Medicamentosos

Enquanto a cirurgia e a radioterapia focam diretamente em tratar o tumor, a terapia medicamentosa geralmente é recomendada para melhorar as taxas de cura, sendo o oncologista clínico responsável por avaliar e determinar quais medicações podem ajudar mais.

Existem duas categorias principais:

- A Quimioterapia tem a habilidade de destruir células tumorais por diferentes métodos, podendo algumas vezes ser necessária a combinação de uma ou mais drogas. Pode ser utilizada antes da cirurgia ou após, para evitar a recidiva e disseminação da doença. Em protocolos de preservação de bexiga é utilizada em conjunto com a radioterapia. Ou pode ser utilizada em casos metastáticos.

- A Imunoterapia é um tratamento que funciona sinalizando o sistema imune do paciente para ajudar na luta contra as células cancerígenas. Pode ser utilizada como complementação após uma ressecção transuretral de um tumor superficial (BCG) ou em pacientes metastáticos que não responderam a quimioterapia.

 

Etapas para a realização da radioterapia

Uma vez que já houve indicação da radioterapia para o paciente com câncer de bexiga pelo médico rádio-oncologista, existem passos a serem realizados antes do início efetivo do tratamento, o que pode muitas vezes levar cerca de uma ou duas semanas, a depender da complexidade do que necessita ser realizado. Sabe-se que há ansiedade do paciente para o início rápido do tratamento do câncer, mas para haver boas chances de cura os procedimentos precisam ser bem feitos, sendo preparo semelhante realizado nos melhores centros oncológicos do mundo.

- Exames→ não é raro que o médico rádio-oncologista necessite de mais exames, tais como ressonância magnética, PET, dentre outros, para a correta definição do local a ser tratado, e também para melhor visualização de estruturas muito sensíveis a radiação.

- Tomografia de Simulação→ para a realização do planejamento do tratamento é necessária a realização de uma tomografia no próprio serviço de radioterapia onde o doente será tratado. A fim de imobilizar o paciente e reproduzir o posicionamento no dia-a-dia de tratamento, poderão ser utilizados apoios para os pés, para os joelhos, ou realizada a confecção de um tipo de colchão que se amolda ao formato do corpo do paciente (VacFix ou Alpha-Craddle). Após a realização do exame, o paciente é dispensado para ir para casa e aguardar a convocação para o tratamento.

- Planejamento do Tratamento→ é uma etapa que é feita sem o paciente estar presente. As imagens adquiridas na tomografia de simulação são transferidas para um sistema computadorizado, e nele o médico rádio-oncologista definirá as regiões a serem tratadas e as regiões que não podem receber doses elevadas de radiação. Uma vez feito isto, os dosimetristas e físicos médicos elaboram um plano de como o Acelerador Linear (máquina de radioterapia) se comportará para alcançar os objetivos estabelecidos pelo médico. Estando pronto o plano, ele é revisto pelo rádio-oncologista, que aprova o plano ou sugere novas modificações, até a aprovação final.

- Controle de Qualidade→ nesta etapa é verificado se o que foi planejado do sistema computadorizado pode ser realizado de maneira igual na máquina de radioterapia.

- Tratamento→ o paciente então é convocado e inicia o tratamento no Acelerador Linear. A administração da radiação é realizada pelo técnico/ tecnólogo em radioterapia, com cada sessão de radioterapia durando entre 10 e 30 minutos. Existem vários esquemas de tratamento que podem ser realizados, a ser definido pelo rádio-oncologista conforme o caso, podendo ser uma ou duas aplicações por dia, com todo o tratamento durando usualmente de 6 a 7 semanas. Durante o tratamento o paciente deve passar semanalmente em consulta com o médico rádio-oncologista, e muitas vezes com outros membros da equipe multiprofissional.

 

Efeitos Colaterais da Radioterapia

Os efeitos colaterais dependem da região sendo tratada, da dose de radiação utilizada, do uso concomitante de quimioterapia, ocorrendo apenas com uma parcela dos pacientes.  Quando aparecem, costumam ocorrer por volta da segunda ou terceira semana de tratamento, podendo persistir por até 2 meses após o término da radioterapia. No tratamento do câncer de bexiga, vale a pena citar:

  • Irritação da bexiga com aumento da vontade de urinar
  • Irritação do intestino, com cólicas, pressão no reto ou diarreia
  • Fadiga, na qual você se sente cansado grande parte do tempo
  • Pode haver perda de pêlos na região púbica, que pode ser permanente ou temporária
  • Mulheres podem experimentar secura vaginal
  • Homens podem experimentar dificuldade de atingir ereção

Se experimentar efeitos colaterais durante o tratamento, não deixe de avisar o médico rádio-oncologista, pois podem existir medicamentos que ajudem a mitigar os sintomas.