A neoplasia maligna de colo uterino é o terceiro câncer mais comum encontrado nas mulheres, quando excluídos os cânceres de pele não melanoma, com uma estimativa de 16.710 novos casos em 2020 no Brasil.
O tipo mais comum de câncer que acomete o colo uterino é o carcinoma de células escamosas (ou carcinoma espinocelular), sendo a infecção pelo vírus HPV (uma doença sexualmente transmissível) responsável por mais de 90% dos casos.


Mas, o que é o colo uterino?

O colo do útero é uma porção de tecido em forma de cilindro que conecta a vagina e o útero, estando localizado na parte mais inferior do útero, sendo constituído primariamente de tecido fibromuscular.
A parte do colo uterino que pode ser visto durante o exame ginecológico chama-se ectocervix. Nele há uma abertura central, conhecida como orifício externo. O endocervix, ou canal endocervical, é um canal através do colo uterino, indo do orifício externo até o útero.
O colo uterino produz um muco que muda de consistência durante o ciclo menstrual, de maneira a prevenir ou promover a gravidez.
Durante o parto, o colo uterino dilata-se para permitir a passagem do bebê. Durante a menstruação o colo uterino abre-se um pouco para permitir a passagem do fluxo menstrual.

 

Colo Uterino

 

Quais médicos tratam o câncer de colo uterino?


Dependendo das características do paciente e do tumor, diferentes especialistas médicos podem fazer parte da equipe de tratamento, incluindo:

 

  • Ginecologista/ Cirurgião Oncológico: cirurgiões especialistas no tratamento de doenças do sistema urinário e do sistema reprodutor feminino
  • Rádio-oncologista ou Radioterapeuta: médico que trata do câncer utilizando radiações.
  • Oncologista Clínico: médico que trata do câncer com remédios como quimioterapia, hormonioterapia e imunoterapia.


Outros especialistas poderão participar do time de tratamento, incluindo enfermeiras, psicólogos, assistentes sociais, especialistas em nutrição, especialistas em reabilitação, e outros profissionais da saúde.

 

Decisão do Tratamento


A escolha do tratamento para o câncer de colo uterino depende de uma série de variáveis, e é importante discutir com os médicos os objetivos e  efeitos colaterais possíveis. São coisas importantes para serem consideradas:

  • O estágio e grau do tumor
  • Idade da paciente e expectativa de vida
  • Outras doenças que a paciente possua
  • A chance de cura ou qual benefício o tratamento trará
  • Expectativas da paciente


Idealmente, para a decisão do tratamento é importante consultar o ginecologista/ cirurgião oncológico, o rádio-oncologista e o oncologista clínico para conhecer as melhores opções possíveis para o seu caso.

 

Opções de Tratamento


A depender do estágio da doença, pode-se utilizar cirurgia, radioterapia e/ou tratamento sistêmico.

  • Cirurgia
    A cirurgia é uma das modalidades de tratamento do câncer de colo uterino. A papel do ginecologista é de suma relevância, indo desde estabelecer a hipótese de câncer através da história e exame físico da paciente, da realização do exame Papanicou e biópsias, passando pela ressecção do tumor em si.
    A extensão da cirurgia para retirada do tumor também depende da extensão da doença. Pode-se realizar em casos mais iniciais a conização do colo uterino (retirada de parte do colo uterino) ou a traquelectomia radical (retirada do colo uterino). Em casos um pouco mais avançados pode ser realizada a histerectomia radical (retirada do útero e anexos) com linfadenectomia, podendo ser realizada de maneira aberta convencional, ou através de videolaparoscopia, ou ainda por via laparoscópica robô-assistida.

 


Cirurgia Laparoscópica Assistida por Robô

 

  • Radioterapia

Em casos mais avançados, cuja a cirurgia não seja a terapia de escolha, pode ser realizada a radioterapia. Geralmente são utilizadas duas técnicas associadas:


-Teleterapia: É a técnica mais utilizada de radioterapia, envolvendo o uso de radiação (geralmente raios-X) de maneira focada, para matar as células tumorais, em um aparelho chamado Acelerador Linear. O tecido sadio circunjacente pode ser afetado também, porém as células normais possuem maior capacidade de se curar dos efeitos da radiação do que o tumor. Novas tecnologias em radioterapia, como o IMRT e o VMAT, também permitem a diminuição da dose de radiação nos órgãos de risco pélvicos. Tradicionalmente o tratamento com finalidade curativa dura cerca de 25- 30 sessões, sendo associada à sessões de braquiterapia.
Naquelas pacientes já operadas, e cujo risco da doença voltar seja elevado, a radioterapia adjuvante (após a cirurgia) pode ser utilizada como forma de minimizar este risco. A teleterapia pode ainda ser empregada na paliação de pacientes com sintomas locais, metástases, ou no tratamento ablativo de oligometástases.

 

Acelerador Linear- Aparelho de Teleterapia

 

-Braquiterapia: Envolve o uso de radiação através de fontes radioativas que são empregadas para tratar diretamente o tumor através de aplicadores temporários. Estes aplicadores são colocados pela vagina, com a paciente sedada ou anestesiada, sendo usualmente empregadas uma sonda intrauterina e um  aplicador em contato direto com o colo uterino. É utilizada como uma maneira a dar mais dose de radiação após a teleterapia, sendo empregadas geralmente de 3 a 5 sessões.
Em algumas situações especiais pode ser empregada após a cirurgia, ou de maneira paliativa.

 

 

Aplicador de Braquiterapia- Sonda e Anel

 

Aplicador de Braquiterapia- Sonda e Anel posicionados no interior da paciente- corte sagital

 

  • Tratamentos Medicamentosos/ Sistêmicos
    Enquanto a cirurgia e a radioterapia focam diretamente em tratar o tumor e adjacências, a terapia medicamentosa geralmente é recomendada para melhorar as taxas de cura, sendo o oncologista clínico o responsável por avaliar e determinar quais medicações podem ajudar mais.
    Em casos nos quais a paciente seja tratada com intenção curativa com radioterapia, a quimioterapia é empregada de maneira a potencializar o efeito da radiação.
    Naquelas pacientes metastáticas, cuja doença já é sistêmica, a quimioterapia tem o papel principal, de maneira a tratar todo o corpo.

 

Etapas para a realização da radioterapia

Uma vez já havendo a indicação da radioterapia para a paciente com câncer de colo uterino pelo médico rádio-oncologista, existem passos a serem realizados antes do início efetivo do tratamento, o que pode muitas vezes levar cerca de uma ou duas semanas, a depender da complexidade do que necessita ser realizado. Sabe-se que há ansiedade do paciente para o início rápido do tratamento do câncer, mas para haver boas chances de cura os procedimentos precisam ser bem feitos.

- Exames→ não é raro que o médico rádio-oncologista necessite de mais exames, tais como ressonância magnética, PET, dentre outros, para a correta definição do local a ser tratado, e também para melhor visualização de estruturas muito sensíveis a radiação. Estes exames podem ser pedidos antes do tratamento e durante o tratamento.

- Tomografia de Simulação→ para a realização do planejamento do tratamento é necessária a realização de uma tomografia no próprio serviço de radioterapia onde a doente será tratada. A fim de imobilizar a paciente e reproduzir o posicionamento no dia-a-dia de tratamento, poderão ser utilizados apoios para os pés, para os joelhos, ou realizada a confecção de um tipo de colchão que se amolda ao formato do corpo da paciente (VacFix ou Alpha-Craddle). Após a realização do exame, a paciente é dispensada para ir para casa e aguardar a convocação para o tratamento.

- Planejamento do Tratamento→ é uma etapa que é feita sem a paciente estar presente. As imagens adquiridas na tomografia de simulação são transferidas para um sistema computadorizado, e nele o médico rádio-oncologista definirá as regiões a serem tratadas e as regiões que não podem receber doses elevadas de radiação. Uma vez feito isto, os dosimetristas e físicos médicos elaboram um plano de como o Acelerador Linear (máquina de radioterapia) se comportará para alcançar os objetivos estabelecidos pelo médico. Estando pronto o plano, ele é revisto pelo rádio-oncologista, que aprova o plano ou sugere novas modificações, até a aprovação final.

- Controle de Qualidade→ nesta etapa é verificado se o que foi planejado do sistema computadorizado pode ser realizado de maneira igual na máquina de radioterapia.

- Tratamento→ a paciente então é convocada e inicia o tratamento no Acelerador Linear. A administração da radiação é realizada pelo técnico/
tecnólogo em radioterapia, com cada sessão de radioterapia durando entre 10 e 30 minutos. Existem vários esquemas de tratamento que podem ser
realizados, a ser definido pelo rádio-oncologista conforme o caso. Durante o tratamento a paciente deve passar semanalmente em consulta com o
médico rádio-oncologista, e muitas vezes com outros membros da equipe multiprofissional. Muitas vezes, no decorrer do curso de teleterapia, ou
logo após, serão realizadas as sessões de braquiterapia.

 

Efeitos Colaterais da Radioterapia

Os efeitos colaterais dependem da região sendo tratada, da dose de radiação utilizada e da sensibilidade individual da paciente à radiação. O efeitos podem ser divididos entre agudos e crônicos. Os agudos, quando aparecem, costumam ocorrer por volta da segunda ou terceira semana de tratamento, podendo persistir por até 2 meses após o término da radioterapia. Os crônicos aparecem meses ou anos após o término da radioterapia.
No tratamento do câncer de colo uterino, vale a pena citar:

  • Irritação da bexiga com aumento da vontade de urinar
  • Irritação da uretra, havendo ardor ao urinar
  • Irritação do intestino, com cólicas, pressão no reto ou diarreia
  • Fadiga, na qual você se sente cansada grande parte do tempo
  • Pode haver perda de pêlos na região púbica, que pode ser permanente ou temporária
  • Esterilidade (incapacidade de ter gestação) e menopausa precoce geralmente ocorrem após a radioterapia.
  • As pacientes podem experimentar secura vaginal ou estreitamento da vaginal com o decorrer do tempo.
  • Sangramento é um efeito que pode acontecer meses/ anos após a radioterapia, podendo ocorrer junto com as fezes ou junto com a urina


Se experimentar efeitos colaterais durante o tratamento ou após, não deixe de avisar o médico rádio-oncologista, pois podem existir medicamentos e/ou procedimentos que podem resolver ou mitigar os sintomas.

Referências:
https://www.inca.gov.br/
https://www.rtanswers.org/