O melanoma ocular é o um câncer extremamente raro, com uma incidência estimada de 5 a 10 novos casos por milhão de pessoas.É proveniente de células que produzem melanina (pigmento que dá cor a pele, e também está presente no olho).
A região do olho mais comum de ocorrer este câncer é em uma camada chamada de coróide, mas também pode afetar outras regiões do olho como a íris ou o corpo ciliar.
Regiões do olho que podem ser acometidas pelo melanoma
Mas, por que este tipo de câncer acontece?
As causas para o aparecimento do melanoma ocular não são muito claras.
São fatores de risco ter a pele branca com dificuldade para bronzear, olhos claros, pacientes que possuam a Síndrome de Nevus Displásico, melanocitose ocular ou algumas mutações genéticas.
Quais são os sintomas do melanoma ocular?
A maior parte dos melanomas oculares são descobertos em exames de rotina com o oftalmologista. Uma parte dos pacientes podem apresentar sintomas como diminuição ou deformações do campo visual, moscas volantes (pontos escuros flutuando na visão) ou flashes visuais.
Quais médicos tratam o melanoma ocular?
O melanoma ocular, a depender de seu estágio, é tratado por um time de especialistas médicos, incluindo:
- Oftalmologista: especialistas no tratamento de doenças oculares
- Rádio-oncologista ou Radioterapeuta: médico que trata do câncer utilizando radioterapia/ radiações ionizantes
- Oncologista clínico: médico que trata do câncer com remédios como quimioterapia, hormonioterapia e imunoterapia
Outros especialistas poderão participar do time de tratamento, incluindo enfermeiras, psicólogos, assistentes sociais, físicos, especialistas em nutrição,
especialistas em reabilitação, e outros profissionais da saúde.
Decisão do Tratamento
A escolha do tratamento para o melanoma ocular depende de uma série de variáveis, e é importante discutir com os médicos os objetivos e efeitos colaterais possíveis. São coisas importantes para serem consideradas:
- Expectativa de vida
- Outras doenças que o paciente possua
- O estágio e tamanho do tumor
- A chance de cura ou qual benefício o tratamento trará
Idealmente, para a decisão do tratamento, é importante consultar o oftalmologista especializado em casos oncológicos, o rádio-oncologista e o oncologista clínico para conhecer as opções possíveis para o seu caso, além de realizar os estadiamento da doença.
Tratamento
Existem algumas opções de tratamento para o melanoma ocular, a depender das características do tumor.
- Cirurgia
Até os anos 1970 a enucleação era o tratamento padrão do melanoma ocular, mas estudos retrospectivos comparando esta cirurgia com a radioterapia não demonstram nenhuma vantagem em sobrevida de uma sobre a outra.
Desta maneira a enucleação fica reservada para algumas situações especiais, como tumores muito grandes, extensão extraescleral importante, glaucoma neurovascular, descolamento grande da retina ou preferência do paciente.
- Termoterapia transpupilar
Também chamada de hipertermia por laser, é utilizada apenas em tumores de até 3 mm de espessura, e pode estar associada a complicações importantes, com uma taxa de recidiva de 30% em 3 anos.
- Terapia fotodinâmica
Pouco utilizada, consiste na injeção de uma substância fotossensibilizante seguida da aplicação de luz em uma frequência que ativa esta substância, havendo a formação de radicais livres que provocam necrose tumoral. Não é efetiva para tumores grandes.
- Fotocoagulação por Laser
Também é pouco utilizada, pois pode levar a efeitos adversos significantes, sendo as recidivas locais comuns.
- Radioterapia
Braquiterapia: Envolve o uso de radiação através de fontes radioativas que são empregadas para tratar diretamente o tumor, através de umimplante temporário, realizado pelo oftalmologista, com auxílio do rádio-oncologista. Vários materiais radioativos podem ser utilizados, sendo o mais comum o Iodo-125. O Rutênio-106 pode ser utilizado para o tratamento de tumores pequenos. Geralmente o material radioativo é colocado em um molde (placa), e esta placa é fixada no globo ocular por um determinado período de tempo (2- 7 dias).
As taxas de controle da doença com esta técnica giram em torno de 90- 95%.
Imagem demonstrando a placa de braquiterapia posicionada adjacente ao melanoma intraocular
Teleterapia com partículas carregadas: Fora do Brasil o uso de radioterapia com prótons, íons de carbono ou íons de hélio é a segunda forma de tratamento mais utilizada para o melanoma ocular. Possui taxa de controle semelhante à braquiterapia, porém com riscos de complicação diferentes. Esta tecnologia não está disponível no Brasil
Teleterapia com Fótons: também chamada de radioterapia estereotática ablativa, pode ser empregada no tratamento do melanoma ocular, com controle similar a outras técnicas de radioterapia, mas com taxas de complicação superiores.
- Terapia Medicamentosa
Em casos em que o paciente apresente metástases, isto é, a doença tenha acometido também outro lugar do corpo, é necessária uma terapêutica com drogas, conduzida pelo oncologista clínico. Atualmente é mais utilizada a imunoterapia em casos de melanoma, mas também podem ser empregadas outras drogas-alvo ou quimioterapia.
Etapas para a realização da Braquiterapia
Uma vez já diagnosticado o melanoma de coróide pelo oftalmologista capacitado na realização de braquiterapia, é importante a consulta realizada pelo médico rádio-oncologista, pois existem passos a serem realizados antes do início efetivo do tratamento.
O papel do médico rádio-oncologista/ radioterapeuta será de:
- Avaliação de Exames e do Paciente→ É importante o conhecimento das características do tumor para o planejamento do tratamento, além de saber o estágio da doença, se está localizada ou não, conhecer comorbidades do paciente, dentre outros.
- Planejamento do Tratamento→ Esta etapa é realizada sem a presença do paciente. Para a realização do planejamento do tratamento são necessárias informações a respeito do tumor (tipo, tamanho, localização no olho) e sobre a atividade das fontes radioativas a serem utilizadas. Desta forma será escolhido o melhor molde/ placa para o tratamento, a escolha de dose, e o cálculo do período que o paciente deverá ficar com o implante para dar a dose desejada. Nesta etapa o médico rádio-oncologista conta com o apoio de uma equipe de física-médica.
- Implante da Placa→ Normalmente o paciente é internado no mesmo dia do procedimento, e é encaminhado ao Centro Cirúrgico. Lá, para maior segurança, preconizamos a realização de anestesia geral. O médico oftalmologista estão realizará o implante da placa, que será fornecida já montada, após a aprovação do plano pelo rádio-oncologista.
Placas utilizadas para a colocação de sementes radioativas e implantes na braquiterapia oftálmica
- Internação→ Após o implante é realizado um curativo, e o(a) paciente é encaminhado(a) ao quarto, onde ficará internado(a) pelo período necessário para dar a dose de radiação. Em algumas situações, ao invés do(a) paciente ficar internado(a), ele(a) pode voltar para casa durante este período.
- Retirada da Placa→ Após decorrer o período necessário, o(a) paciente vai novamente ao Centro Cirúrgico para retirada da placa, e é realizado um novo curativo, havendo então a alta hospitalar.
- Seguimento→ O seguimento geralmente é realizado pelo médico oftalmologista, que de tempos em tempos realizará um verificação da evolução do tumor. É esperado que o tumor regrida ao longo do tempo, até alcançar seu tamanho mínimo, tornando-se uma cicatriz.
Efeitos Colaterais da Radioterapia
Os efeitos colaterais dependem da região do olho a ser tratada, da dose de radiação utilizada e da sensibilidade individual do paciente à radiação. No tratamento do melanoma ocular, vale a pena citar:
- Secura ocular
- Catarata
- Danos a retina ou a esclera
- Perda de campo visual
Se experimentar efeitos colaterais durante o tratamento ou após, não deixe de avisar o médico oftalmologista e o rádio-oncologista, pois podem existir medicamentos e/ou procedimentos que podem resolver ou mitigar os sintomas.