O câncer de Sistema Nervoso Central constitui a décima neoplasia mais comum encontrada tanto em mulheres quanto em homens em nosso país, quando excluídos os cânceres de pele não melanoma, com uma estimativa de 11.100 novos casos em 2020 no Brasil.
Existem diversos tipos de tumores primários que podem acometer o cérebro, e dentre eles podemos destacar os astrocitomas, os oligodendrogliomas, os glioblastomas, os ependimomasos e os meduloblastomas,
Quais são os fatores que podem levar ao desenvolvimento do câncer de cérebro?
As causas do desenvolvimento deste tipo de câncer são ainda incompletamente compreendidas, devendo ser multifatorial, iniciando-se através ddo somatório de mutações do DNA de células sadias, que passam a se multiplicar de forma descontrolada, invadindo tecidos próximos, ou até mesmo migrando para outras partes do corpo e estabelecendo novos tumores distantes daquele original (metástases).
São fatores de risco bem conhecidos para o desenvolvimento do câncer de cérebro:
- Deficiência do Sistema Imunológico- através de infecções, medicamentos ou drogas.
- Exposição à radiação ionizante- em profissionais que lidam com Raios-X, pessoas que receberam radioterapia ou muitos exames com radiação (tomografia).
Causas ambientais e ocupacionais relacionadas ao maior risco:
- Exposição a arsênico, chumbo, mercúrio, óleo mineral e HPA.
- Trabalhar em indústria petroquímica, de borracha, plástico, gráfica, papel, têxtil, agrotóxicos, refinaria, usina nuclear, produção e reparo de veículos a motor, na prestação de serviços elétricos e de telefonia e na agricultura.
- Campos magnéticos de muita baixa frequência (< 3 mG) parecem estar ligados a glioblastomas em homens, mas não em mulheres.
Quais médicos tratam o câncer de cérebro?
Dependendo das características do paciente e do tumor, diferentes especialistas médicos podem fazer parte da equipe de tratamento, incluindo:
- Neurocirurgião: cirurgiões especialistas no tratamento de doenças do Sistema Nervoso Central.
- Rádio-oncologista ou Radioterapeuta: médico que trata do câncer utilizando radiações através de fontes seladas.
- Oncologista Clínico: médico que trata do câncer com remédios como quimioterapia, hormonioterapia e imunoterapia.
Outros especialistas poderão participar do time de tratamento, incluindo outros médicos, enfermeiras, psicólogos, assistentes sociais, especialistas em nutrição, especialistas em reabilitação, e outros profissionais da saúde.
Decisão do Tratamento
A escolha do tratamento para o câncer de cérebro depende de uma série de variáveis, e é importante discutir com os médicos os objetivos e efeitos colaterais possíveis. São coisas importantes para serem consideradas:
- O tipo do tumor
- O estágio e grau do tumor
- Idade do paciente e expectativa de vida
- Outras doenças que a paciente possua
- A chance de cura ou qual benefício o tratamento trará
- Expectativas do paciente
Idealmente, para a decisão do tratamento é importante consultar toda a equipe médica para conhecer as melhores opções possíveis para o seu caso.
Opções de Tratamento
A depender do estágio da doença, há diversas opções de tratamento.
- Cirurgia
A cirurgia é uma das principais modalidades de tratamento do câncer de encéfalo. A papel do cirurgião é de suma relevância, indo desde estabelecer a hipótese de câncer através da história e exame físico do paciente, da requisição e realização de exames subsidiários e biópsias, passando pela ressecção com finalidade curativa do fragmento acometido pelo tumor.
Microneurocirurgia
- Tratamentos Medicamentosos/ Sistêmicos
Enquanto a cirurgia foca diretamente em tratar o tumor, a terapia medicamentosa geralmente é recomendada para melhorar as taxas de cura e/ou sobrevida livre de doença, sendo o oncologista clínico o responsável por avaliar e determinar quais medicações podem ajudar mais.
- Radioterapia
A radioterapia possui um papel importante no tratamento do câncer de cérebro, uma vez que nem sempre são possíveis ressecções totais da lesão, e, mesmo quando isso é alcançado, dificilmente o cirurgião conseguirá dar margens adequadas de tecido sadio ao redor do tumor.
Diversas ocasiões é utilizada depois da cirurgia, naqueles pacientes cujo tumor possua fatores adversos. Muitas vezes é utilizada em conjunto com a quimioterapia.
Naqueles pacientes não candidatos à cirurgia, a radioterapia acaba sendo uma opção de tratamento.
E como funciona a radioterapia?
Existem algumas técnica de radioterapia que podem ser empregadas:
-Teleterapia: É a técnica mais utilizada de radioterapia, envolvendo o uso de radiação (geralmente raios-X) de maneira focada, para matar as células tumorais, em um aparelho chamado Acelerador Linear. O tecido sadio circunjacente pode ser afetado também, porém as células normais possuem maior capacidade de se curar dos efeitos da radiação do que o tumor. Novas tecnologias em radioterapia, como o IMRT e o VMAT, também permitem a diminuição da dose de radiação nos órgãos de risco encefálicos. Tradicionalmente o tratamento dura cerca de 5- 30 sessões, podendo ser associada à quimioterapia.
A teleterapia pode ainda ser empregada na paliação de pacientes com sintomas locais, metástases, ou no tratamento ablativo de oligometástases.
Acelerador Linear
-Braquiterapia: Envolve o uso de radiação através de fontes radioativas que são empregadas para tratar diretamente o tumor através de aplicadores temporários ou implantes de fontes radioativas. Isso é realizado logo após a ressecção do tumor. Esta técnica é pouco utilizada, devido à falta de evidência de benefício clínico superior em relação à teleterapia.
Etapas para a realização da radioterapia
Uma vez já havendo a indicação da radioterapia para a paciente com câncer de cérebro pelo médico rádio-oncologista, existem passos a serem realizados antes do início efetivo do tratamento, o que pode muitas vezes levar cerca de uma ou duas semanas, a depender da complexidade do que necessita ser realizado. Sabe-se que há ansiedade do paciente para o início rápido do tratamento do câncer, mas para haver boas chances de cura os procedimentos precisam ser bem feitos.
- Exames→ não é raro que o médico rádio-oncologista necessite de mais exames, tais como ressonância magnética, PET, dentre outros, para a correta definição do local a ser tratado, e também para melhor visualização de estruturas muito sensíveis a radiação. Estes exames podem ser pedidos antes do tratamento e durante o tratamento.
- Tomografia de Simulação→ para a realização do planejamento do tratamento é necessária a realização de uma tomografia no próprio serviço de radioterapia onde o doente será tratado. A fim de imobilizar o paciente e reproduzir o posicionamento no dia-a-dia de tratamento, será confeccionada uma máscara termoplástica, que será também utilizada no dia-a-dia de tratamento. Após a realização do exame, o paciente é dispensado para ir para casa e aguardar a convocação para o tratamento.
Máscara termoplástica
- Planejamento do Tratamento→ é uma etapa que é feita sem o paciente estar presente. As imagens adquiridas na tomografia de simulação são transferidas para um sistema computadorizado, e nele o médico rádio-oncologista definirá as regiões a serem tratadas e as regiões que não podem receber doses elevadas de radiação. Uma vez feito isto, os dosimetristas e físicos médicos elaboram um plano de como o Acelerador Linear (máquina de radioterapia) se comportará para alcançar os objetivos estabelecidos pelo médico. Estando pronto o plano, ele é revisto pelo rádio-oncologista, que aprova o plano ou sugere novas modificações, até a aprovação final.
- Controle de Qualidade→ nesta etapa é verificado se o que foi planejado do sistema computadorizado pode ser realizado de maneira igual na máquina de radioterapia.
- Tratamento→ o paciente então é convocado e inicia o tratamento no Acelerador Linear. A administração da radiação é realizada pelo técnico/ tecnólogo em radioterapia, com cada sessão de radioterapia durando entre 10 e 30 minutos. Existem vários esquemas de tratamento que podem ser realizados, a ser definido pelo rádio-oncologista conforme o caso. Durante o tratamento o paciente deve passar semanalmente em consulta com o médico rádio-oncologista, e muitas vezes com outros membros da equipe multiprofissional.
Efeitos Colaterais da Radioterapia
Os efeitos colaterais dependem da região sendo tratada, da dose de radiação utilizada e da sensibilidade individual da paciente à radiação. Os efeitos podem ser divididos entre agudos e crônicos. Os agudos, quando aparecem, costumam ocorrer por volta da segunda ou terceira semana de tratamento, podendo persistir por até 2 meses após o término da radioterapia. Os crônicos aparecem meses ou anos após o término da radioterapia.
No tratamento do câncer de cérebro, vale a pena citar:
- Fadiga
- Perda permanente de cabelos
- Letargia
- Dor de cabeça
- Fraqueza
- Náusea e vômitos
Se experimentar efeitos colaterais durante o tratamento ou após, não deixe de avisar o médico rádio-oncologista, pois podem existir medicamentos e/ou procedimentos que podem resolver ou mitigar os sintomas.
Referências: