Dentro de "Outubro Rosa", mês para conscientização sobre o câncer de mama, fala-se muito a respeito sobre a incidência e prevenção desta doença na população cisgênero. Porém, e a população transgênero ou transexual? Será que esta população possui um risco de desenvolvimento de câncer igual ou diferente?
Um estudo publicado no British Medical Journal em 2019 avaliou justamente a incidência desta doença na população transgênero. O ensaio incluiu 2.260 mulheres transgênero e 1.229 homens transgênero, recebendo tratamento hormonal, entre 1972 e 2016 em Amsterdam, Holanda.
A idade do ínício do tratamento hormonal foi de 31 anos para mulheres trans e 23 anos para homens trans.
Das 2.260 mulheres trans, 15 foram diagnosticadas com câncer de mama invasivo com uma idade média de 50 anos, após uma média de 18 anos de tratamento hormonal.
Esta incidência foi superior à encontrada na população geral masculina, na qual a identidade de gênero combina com o sexo atribuído ao nascimento (homens cisgênero), mas menor que na população geral feminina (mulheres cisgênero).
Dos 1.229 homens trans, 4 casos de câncer de mama invasivo foram identificados com uma média de idade de 47 anos, após uma média de 15 anos de tratamento hormonal. Esta taxa de incidência foi menor que a encontrada entre as mulheres cisgênero.
Baseado neste estudo, os autores concluem que o risco absoluto de câncer de mama em transgêneros é baixo, e é suficiente para esta população submetida a tratamento hormonal seguir os guidelines utilizados na população cisgênero.
Outros autores sugerem uma abordagem baseada em exposição a hormonioterapia, e na realização ou não de cirurgia mamária.
Orientações
Mulheres Transgênero
O rastreio para o câncer de mama em mulheres transgênero pode ser realizado naquelas com ao menos 5 anos de uso de hormônios feminilizantes. Alguns grupos defendem que deva haver um mínimo de 10 anos de uso de hormônios feminilizantes antes que sejam elegíveis para a realização de mamografias.
É recomendado que a realização de mamografias para rastreio de câncer de mama não se inicie antes dos 50 anos. Após a primeira mamografia, este exame deve ser repetido a cada 2 anos.
Homens Transgênero
Se NÃO FOI realizada a mastectomia masculinizadora, o homem transgênero deve realizar a mamografia para rastreio de câncer de mama conforme as orientações atuais para mulheres cisgênero (a recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia é de mamografia anual a partir dos 40 anos de idade; a recomendação do Ministério da Saúde é de realizar mamografia bianual a partir dos 50 anos).
Se FOI realizada a mastectomia masculinizadora, o homem transgênero não necessita realizar exames de rastreio para câncer de mama, porém deve procurar serviço médico se notar alterações nas mamas.
Tratamento
O tratamento não difere daquele realizado para a população cisgênero, sendo baseada na cirurgia, quimioterapia, hormonioterapia, e radioterapia, a depender do estágio da doença.
Para maiores informações sobre o emprego da radioterapia no câncer de mama, acesse:
http://dricarocarvalho.com.br/index.php/blog2/132-radioterapia-no-tratamento-do-cancer-de-mama
Fontes:
https://prevention.ucsf.edu/transhealth
https://www.clinical-breast-cancer.com/article/S1526-8209(14)00194-3/pdf
https://www.bmj.com/company/newsroom/study-shows-increased-risk-of-breast-cancer-in-transgender-women/
https://transcare.ucsf.edu/guidelines/breast-cancer-women
https://www.uhhospitals.org/services/cancer-services/breast-cancer/transgender-breast-screenings